Jeferson Ferreira
Jeferson Ferreira sempre foi um leitor dedicado e um observador atento do mundo que o cercava, procurando interpretá-lo e senti-lo de modo profundo.
Essa afeição por interpretar e entender a realidade que o cercava, tanto quanto a paixão por vê-la de outros ambientes, outros tempos e outros olhares, o levou, como estudioso apaixonado e incansável, ao curso de Literatura na Universidade de São Paulo, instituição pela qual se consagrou Mestre em Literatura Francesa.
Jeff Ferreira nasceu em São Paulo em 10 de agosto de 1980. Oriundo de uma família de classe média, ele teve a sorte de ter pais que o incentivaram à leitura e ao gosto por arte (sobretudo, música).
Começou imitando o pai, lendo o caderno de esportes. Logo foi para as tirinhas e quadrinhos, por impulso materno. E, enfim, entregando-se de vez a um trabalho mais detido com a palavra, começou a ler as crônicas do jornal. No entanto, o momento de encontro com a literatura, o ápice, deu-se num dia claro e frio de outono: na sala de leitura do colégio em que estudava, Jeff Ferreira deparou-se com o poema Canção para uma Valsa Lenta, de Mário Quintana. Nada nunca tocou tão fundo.
A partir de então, é tudo travessia em torno desse momento fundante: os primeiros versos, a busca de uma voz, de um ritmo. A busca de si na poesia.
Poesia esta que nunca é fruto do puro acaso. Nunca é tão-só enleio emocional. Jeff Ferreira rapidamente se interessou pela poesia também como campo de estudo. Entrou, aos 20 anos, na Faculdade de Letras da USP, onde mais tarde se consagraria bacharel e, em 2011, Mestre em Literatura Francesa.
Hoje, nas horas úteis, Jeff Ferreira vende seu tempo para o capitalismo. Nas demais horas, as horas que importam, faz poesia.
Sobre o livro: Na tribulação há o correr dos fugitivos e a estupefação de quem para. Numa época em que a velocidade da fuga suplanta a perplexidade de quem simplesmente não consegue – nem quer – fugir, os versos de Jeferson Ferreira são como o exercício da deriva, dos situacionistas: mais ainda além, chegando aos instantes inapreensíveis, construindo seu caminho a partir da imobilidade dos desesperados e da desabalada carreira dos que estão em pânico.
E aí temos do fragmento (que Novalis imaginava como porcos-espinhos, enigmáticos em sua própria clausura) a suposta objetividade do pequeno poema em prosa. Não como fotografias, como corre hoje, banal, pela sociedade da imagem e da espetacularização, mas como percepções profundas, como o desejo no olhar do comedor de ópio.
Anacrônico? Não, ainda mais agudo, porque essa percepção transcende a visão recorrentemente digital à qual nos acostumamos nesses dias, e justamente por isso a ultrapassa por fazer com que vejamos o mundo sob o olhar da descoberta mesmo.
O apocalipse é um eterno reescrever de finais que nos colocam no fatal caminho da origem, origem esta supostamente concluída, mas na qual moram os inacabamentos.
Estes, que nos colocam entre a tribulação da fuga e o pânico da estupefação de quem para. Porque poesia é intranquilidade.
Álisson da Hora