Júlio Gonçalves Dias

Sociólogo, autor de contos, microcontos e haicais. Está para começar ou já começou o quinto capítulo de um romance. Acredita que coisas marcantes de sua infância passada no interior de São Paulo foram o quintal de casa – enorme e cheio de árvores – e as caminhadas sozinho ou com os moleques pela pequena Novo Horizonte – quando descobriu o Circo e os acampamentos ciganos. Tinha tesouros guardados sob a cama: moedas antigas do pai, marcas de cigarros, figurinhas, peões, um chefe índio apache, estilingues e um canivetinho que a avó pensava perdido. Fingia ler grandes histórias nas bulas dos remédios e era muito orgulhoso de ir ao cinema sozinho. Um dia achou muito dinheiro na rua e começou a distribuir para todos dentro de casa. Descobriram que aquele dinheiro havia saído da bolsa de sua mãe. Ficou triste, pois sua história era muito melhor.

Sobre a obra: Os contos escritos por Júlio Gonçalves Dias e Plínio Camilo são frutos das experiências como educadores da Secretaria do Menor num equipamento chamado Casa Aberta, que atendia principalmente crianças e adolescentes em situação de rua. Isso foi do final dos anos oitenta até final de 1995. O trabalho era desenvolvido principalmente na região sul, mas devido a mobilidade dessas crianças e adolescentes pela cidade os autores acabavam por percorre-la quase toda.

Foi feita uma opção narrativa pelos contos curtos e microcontos, às vezes recorrendo a paródias literárias e musicais e abusando das linguagens das ruas daqueles tempos. Os textos se apresentam muitas vezes com uma dinâmica um tanto vertiginosa, pela quantidade de personagens, da energia daqueles meninos e meninas, de referências literárias dos autores e de liberdades expressivas que  guardam semelhança e exprime bem os ares daquele tempo.