Otto Vasconcelos

Nascido em Belém do Pará, o sincero Otto Vasconcelos estudou Letras, Geografia e Saúde Pública. E “ainda deu tempo pra iniciar Ciências Sociais, mas o mercado de trabalho me chamou antes”, explica. Relata que percorreu diversas cidades do Nordeste onde o que mais lhe inspirou foram as paisagens de que pôde desfrutar, ponderando que, possivelmente, foi o que o levou ao curso de Geografia. “As paisagens me encantam!”, exclama, mas relembra também os momentos entristecedores dessa vivência: “Depois de adulto, morei no interior do meu Estado, num município próximo à Hidrelétrica de Tucuruí. Ali, diante de constantes resultados de diásporas nordestinas, notadamente do Maranhão e do Ceará, pude perceber na pele o significado da palavra miséria. Ainda vou escrever um livro sobre essa experiência”.

As inspirações para os escritos deste autor surgem também de seu dia a dia e das pessoas com quem convive: “meus alunos, as vizinhas idosas com quem divido o prédio no qual moro, no centro da cidade, os mortos que estão no cemitério que fica a poucos metros de casa, o hospital universitário que fica do outro lado da minha rua e da minha solidão”, conclui.

Sobre o livro: Esta obra narra, em um monólogo interior costurado por digressões e reflexões da memória, um homem que se depara com a morte e sua aceitação em um processo quase mudo. No espaço da cidade de Belém, a Manhattan amazônica, travestis e evangélicos, gays e professoras primárias são convidados a fazer parte do retalho de lembranças.

 Ao mergulhar na mente deste homem, você espiará pelas frestas as canções, os livros e os demais objetos que constituem a sua alma em um belo e dolorido sonho surrealista. Este livro é mais uma explosão psico-mental do que um romance propriamente dito. O único elemento do romance clássico é aquele amor com “A” maiúsculo, idealista e profundo, que permanece indelével na memória. Amor de gueixa e de filósofo, tão complexo quanto a condição do homossexual na sociedade contemporânea.

 Igor Xanthopulo

Um livro que oferece um texto prazeroso, com muitos questionamentos sobre os relacionamentos pessoais, amorosos. Com uma linguagem sem pudores, a leitura levará você, leitor, a uma compreensão ampla do amor humano, amigo, carnal, sexual mesmo, com todos os delírios e dissabores.

Corpo Povoado, um romance ambientado em Belém, coração da Amazônia brasileira, mostra o estado ou estados de espírito da personagem principal, sempre “sozinha”. Uma solidão apenas quebrada pela eterna lembrança de sua gueixa, loucuras de amor, desejo, paixão e por seus vícios. Um amor livre de preconceitos de ambas as partes, mas visto ainda hoje com maus olhos por essa sociedade de merda, falsa e sem escrúpulos, onde todos aqueles que fogem à ordem heteronormativa – os intitulados outsiders – são as piores pessoas desse mundo escroto.

 Um aprendizado, digamos assim, de como se vive e se morre sozinho, onde mais vale viver e sofrer do que morrer sem ter vivido. Do encontrar forças na doença, no sofrimento, da aceitação do eu e do outro, da amizade, breve, mas sincera.

 Mais que um livro, uma análise de sentimentos, estados de espírito que acompanham o comportamento sexual da personagem, em diversos momentos de sua breve existência.

Eliza Inez Moraes – Jornalista e professora de Literatura