Samuel Malentacchi Marques
Existe no trabalho de Samuel Malentacchi Marques uma nítida obsessão com a forma: da posição em que as palavras são transpostas para o papel à maneira como são grafadas – seus significados colidem entre si, ampliando possibilidades para além do infinito.
É notória a musicalidade de seus versos. O ritmo é confuso e tortuoso, como os passos de um bêbado que tropeça em suas próprias pernas, mas evita magistralmente o chão; uma trilha sonora caótica, mas definitivamente melódica.
Com sua percepção acerca do ser humano, em seu cotidiano equilíbrio (e desequilíbrio), os poemas de Samuel Malentacchi Marques provocam sensações ora ternas e nostálgicas, ora aterradoras e repulsivas. São, em suma, como a vida de qualquer pessoa.
Sobre o livro: Miscelâminas nos brinda com um fluxo nauseante de fragmentos do dia a dia. É um exercício árduo de autorreflexão e percepção aprofundada daquilo que poderia ser visto como corriqueiro e banal. Fato é que há muito no pouco: uma imensidão, uma eternidade, um sem fim. É por este caminho que os poemas deste livro nos levam a passear.
O trajeto é sinuoso, repleto de obstáculos e declives, acidentado. Mas o que se percorre não é uma trilha para uma vista esplendorosa. São as ruas sujas, os bares mal iluminados e os recônditos com cheiro de guardado de nossos próprios lares. E não há glória alguma no destino final.
Acordar, executar tarefas (úteis e inúteis), dormir. É quase inacreditável, mas há poesia nisso tudo.