
Cápsula, de Felipe Garcia de Medeiros

Modelo:978-85-66179-54-5Disponibilidade: Imediata
Cápsula é o lírico pelo avesso na era da poesia neobarroca, sem propor o discurso do eu-lírico, mas refletindo as entranhas do criador. Edgar Morin diz que a poesia é autofágica, mune-se na tradição ainda que exercite a versão da “razão durante”, que só existe na invenção e no verso de criação de uma realidade subsistente na poesia. A leitura dos versos de F.G.M insere-se nessa linguagem pós-surrealista, na atualização do esperpento espanhol, fluindo na associação livre das imagens pelo discurso descontínuo, numa linguagem sem compromisso com o convencional. É teatralização de um imaginário livre, prismático, a ruptura da função da linguagem denotativa, pragmática, o oposto do utilitarismo da literatura beletrista. Deleuze vê o neobarroco como o reflexo da ambiguidade da identidade cultural contemporânea, neobarroco do desequilíbrio, reflexo estrutural de um desejo que não alcança seu objeto, a expressão do paradoxal e fraccionário, algo pós-moderno, pós tudo e anterior a tudo, incluindo o indizível. A poiesis é a criação de outra realidade, a transformação do não-ser em ser no dizer de Platão. Não esperem uma linearidade nos poemas de F.G.M., que confessa: “minha cabeça rolando na lâmina/ opaco/como os cacos/ de vidro no olfato”. É o que devemos decifrar da leitura dos poemas deste livro, livre de qualquer presunção de reconhecimento do coloquial e do convencional.
ANTONIO MIRANDA, poeta